Aprovado projeto de Gandini que dá título de patrono da educação capixaba a professor negro
No dia em que se comemora a Abolição da Escravatura, deputado comemora a aprovação do seu projeto que valoriza a obra do professor Amâncio, descendente de negros, de origem humilde, que sofreu discriminação social, cultural e racial, e talvez por isso tenha ficado esquecido pela literatura produzida no Espírito Santo
Provavelmente, você já ouviu dizer que o educador e filósofo pernambucano Paulo Freire (1921-1997) é reconhecido como patrono da educação brasileira. Freire dedicou grande parte de sua vida à alfabetização e à educação da população pobre. Pois bem, a Assembleia Legislativa capixaba acaba de aprovar o Projeto de Lei 404/2022, de autoria do deputado estadual Fabrício Gandini (PSD), que denomina o educador Amâncio Pinto Pereira (1862-1918) patrono da educação no estado do Espírito Santo.
Para dar o devido reconhecimento à vasta obra literária, informativa e didática deste professor primário e abolicionista, Gandini, que é vice-presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, conseguiu aprovar a proposta na sessão da última quarta-feira (8) e comemora o fato da sua proposta ter sido votada no mês em que se comemora a Abolição da Escravatura (13 de maio).
“Por sua origem humilde, sem ter escolarização superior e ser descendente de negros, professor Amâncio sofreu discriminação social, cultural e racial e, talvez por isso, sua obra, sobretudo a literária, tenha sido menosprezada pelos historiadores da literatura produzida no Espírito Santo, em todos os tempos”, declarou o doutor em Letras, pesquisador da Literatura e História do ES e presidente de honra da Academia Espírito-Santense de Letras (AEL) Francisco Aurélio Ribeiro.
Mas você sabe quem foi Amâncio Pinto Pereira? Professor, jornalista, historiador, escritor, ele é um dos mais importantes de sua época, tendo escrito poemas, contos, novelas, romances, artigos, almanaques, didáticos, e se consagrou como dramaturgo, por suas comédias, dramas, revistas e operetas, encenados nos teatros de Vitória por mais de 30 anos, de 1890 a 1920.
Professor Amâncio participou da vida cultural de Vitória em toda a sua existência e formou uma geração de capixabas amantes da história e da cultura. No entanto, seu nome e sua obra, ainda hoje, são desconhecidos pela maioria da população capixaba.
Amâncio publicou os seguintes livros: Noções abreviadas de Geografia e História do Espírito Santo, em cinco edições, a primeira datada de 1894 e adotada, como as demais, pela Diretoria da Instrução Pública do ES; Almanaque do Espírito Santo, o primeiro em 1899, o segundo, em 1918, e o terceiro, edição póstuma, em 1919; Traços biográficos, 1897; Folhas avulsas, 1895; Folhas dispersas, 1896; Humorismos, contos, 1897, Benevente, cidade de Anchieta, c.1900.
Também são de sua autoria: Na lua de mel, comédia, 1895; O tio Mendes, comédia, 1897; O engrossa: Virou-se contra o feiticeiro, comédia, 1890; Apuros de um marido, comédia em um ato; Jorge ou perdição de mulher; novela; Homens e coisas do Espírito Santo, em dois volumes, o primeiro datado de 1897 e o segundo em edição póstuma; Datas espírito-santenses, em dois volumes, o primeiro publicado em 1909 e o segundo em edição póstuma.
“Pode-se dizer que a obra escrita e publicada do Prof. Amâncio Pereira, de 1888 a 1918, foi um grande ‘Almanaque do Espírito Santo’, pois ela compreende de tudo um pouco: teatro, romance, biografia, geografia, história, poesia, crônica, moral e civismo, o que o fez o principal escritor de sua época”, escreveu Ribeiro.
De acordo com o presidente de honra da AEL, “Amâncio Pereira complementava seu parco salário de professor primário com a venda de suas obras. Sua família era grande, tinha vários filhos pra criar, além de idosos familiares a quem cuidava e não podia se dar ao luxo de publicar por vaidade, para deleite próprio ou dos amigos. Ele precisava vender suas obras para sobreviver e criar sua família”.
Desde 1888, quando publicou sua primeira peça teatral, Deomar, drama em três atos com temática política, Amâncio Pereira fez da literatura uma aliada para expressar sua imensa criatividade, sua visão de mundo abolicionista, republicana e crítica da burguesia no poder, e, também, seu ganha-pão.
O deputado Gandini lembrou que conheceu a obra de Amâncio por meio do advogado, professor e escritor Anaximandro Amorim e, ao descobrir o legado, aceitou elaborar o projeto que concede o título de patrono da Educação Capixaba “a um homem que venceu os desafios do seu tempo com os seus próprios méritos”.
“Elaborei o projeto de lei que declara Amâncio Pinto Pereira o patrono da Educação capixaba. E ele foi aprovado pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa. Fiquei muito feliz pela proposta ter sido aprovada também no plenário pelos meus colegas deputados, justamente no mês em que se comemora a Abolição da Escravatura. Caso a lei seja sancionada pelo governador Renato Casagrande, teremos a oportunidade de valorizar de uma só vez o magistério e a resistência dos negros!”, frisou o deputado estadual.
créditos Assessoria Parlamentar