Professor que incentivou alunos da Serra escreverem sobre sentimentos vai estar na Comissão de Educação da ALES hoje

today14 de junho de 2021
remove_red_eye348

“Ele me ameaçou. Eu preferi não fazer nenhum registro. Falei ‘vou tentar trabalhar com esse cara’. Logo depois, ele foi baleado, internado e eu fui no hospital. Nessa visita, a ficha caiu. Ele tinha uma vida difícil, família destruída. Ao invés de odiá-lo, eu passei a tentar entender como eu poderia mudar essa relação com ele”.

O relato emocionado é do professor de Geografia aposentado Nourival Cardozo Júnior, conhecido como Bigode, responsável pelo projeto “Oficina do Afeto”, que ao longo dos anos incentivou os estudantes a escreverem sobre os seus sentimentos. Através da ideia, Nourival ganhou o carinho, a admiração e o respeito de turmas inteiras.

Ele foi convidado pelo presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, deputado Bruno Lamas (PSB), para falar hoje, às 12h15, em ambiente virtual, pelo canal www.youtube.com/alescomunicacao, sobre a sua experiência de 34 anos dentro da sala de aula que fez com que conseguisse conhecer melhor o universo dos alunos.

Nourival, que lecionou durante anos na Escola Estadual Maria Penedo, em Valparaíso, na Serra, passou a incentivar os estudantes a colocarem as angústias no papel. Assim, nasceu a “Oficina do Afeto”.

“Quando algum aluno me chamava, eu falava: ‘Registra isso, escreve, põe para fora, me entrega, eu vou ler e depois a gente conversa’”, explicou o professor aposentado.

E lembra: “Eu falo e ainda me emociono. Tudo surpresa. Eles vão criando as formas de surpreender a gente.”

CARTAS
As cartas escritas pelos alunos ao longo dos anos são guardadas com cuidado pelo mestre e, agora, se juntaram às centenas de mensagens recebidas pelo professor como homenagem na sua despedida da sala de aula, ocorrida no dia 08/04/2019.

Na despedida, um “corredor humano” com mais de 500 alunos foi formado na escola. Enquanto passava, o professor recebia abraços e homenagens.

“Era a última aula, aí a coordenadora chegou e foi tirando os meninos da sala. Eu falei ‘O que está acontecendo?’. Quando eu saí no corredor, eu falei ‘Que final maravilhoso’. Deu até vontade de não me aposentar mais”, brincou Nourival.

Depois de tantos anos de trabalho, ele sabe que as lembranças deixadas pela dedicação aos alunos farão parte da vida dele por muito mais tempo. “Me faz muito feliz saber que toda essa gratidão está expressa e que vou poder guardar pra sempre isso aqui”, disse.

DEPOIMENTO

“Oficina de Afeto, a escola como laboratório afetivo”
“No início de 2006, retornei à sala de aula, exatamente para a mesma escola onde, há 28 anos, me descobri educador. Foi um reencontro marcante. A realidade já não era a mesma de anos atrás. Agressões, intolerância, violência e até rebeliões, isso mesmo, rebeliões de alunos, fizeram-me duvidar se aquele era mesmo o espaço do saber e do prazer, do ensinar e do aprender.

Precisava urgentemente rever conceitos e reaprender a ser educador. Sobrevivente por duas décadas com o salário de professor, precisava sobreviver aos embates de uma sala de aula. Ali estava eu, diante de adolescentes feridos, machucados pela vida, comprometidos em sua capacidade de expressar carinho e afeição.

Só havia uma saída: a oficina. Não uma oficina de veículos ou objetos, mas de gente, uma Oficina de Afeto. Com ela, eu e os alunos viajamos em nosso mundo interior, o território das emoções, verbalizamos nossos sentimentos e os registramos, com o objetivo de resgatar a autoestima e liberar o desejo de aprender.” Nourival Cardozo Junior, professor de Geografia aposentado

PERFIL
Quem é ele?
Nourival Cardozo Júnior
Professor, consultor educacional, formado em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo, em 1984, e pós-graduado em Planejamento Educacional. Atuou como professor nas redes públicas do Estado do Espírito Santo e do município da Serra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*