Historiador contesta data de fundação de Vitória

today25 de março de 2024
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Estilaque Ferreira, que tem pós-doutorado pela Universidade de Lisboa, em Portugal, fez a revelação durante a estreia do Gandicast, programa do deputado Fabrício Gandini (PSD) no Youtube. Ele garante que a capital capixaba não foi fundada em 8 de setembro de 1551, como dizem os livros didáticos, mas em 15 de julho de 1537, portanto 14 anos antes

O historiador Estilaque Ferreira dos Santos, que tem doutorado em História pela Universidade de São Paulo (USP), pós-doutorado pela Universidade de Lisboa, em Portugal, e é PHD em História do Brasil, fez uma revelação bombástica que promete mexer com a Historiografia capixaba. Segundo ele, Vitória, a capital do Espírito Santo, não foi fundada em 8 de setembro de 1551, como dizem os livros didáticos, mas em 15 de julho de 1537, portanto 14 anos antes.

“Vitória foi fundada por Duarte de Lemos com a criação da Igreja de Santa Luzia, em 1537. A certidão de nascimento da capital é o documento oficial em que o donatário do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho, doou a então ilha de Santo Antônio ao fidalgo Duarte de Lemos”, explicou Estilaque.

A revelação foi feita durante a primeira edição do Gandicast, programa apresentado pelo deputado estadual Fabrício Gandini (PSD) para ser transmitido no seu canal no Youtube. Gandini, que está no seu segundo mandato de deputado, também é estudante do 3º período do curso de História da Faculdade Multivix Vitória.

“O primeiro documento que Vasco Coutinho assinou doando a ilha foi na data de 15 de julho de 1537. Vitória foi fundada neste dia! Estão comemorando o aniversário da cidade na data errada”, garantiu Estilaque, descartando a versão de que os portugueses venceram acirrada batalha contra os índios Goitacazes e, entusiasmados pela vitória, passaram a chamar o local de Ilha de Vitória.

Para comprovar a sua versão dos fatos, Estilaque apontou para a carta régia regulando a doação da Ilha de Santo Antônio a Duarte de Lemos por Vasco Fernandes Coutinho, datada de 8 de janeiro de 1549, e que foi publicada no livro História da Câmara Municipal de Vitória: Os atos e as atas – A trajetória de uma das primeiras câmaras do Brasil.

Segundo Estilaque, “Vasco e Duarte eram amigos, mas brigaram por causa da cidade de Vitória”. O historiador, inclusive, afirma que os sucessores do donatário tentaram apagar a figura de Duarte Lemos. Por isso, o fidalgo não teve o mesmo destaque na História capixaba.

Para o historiador, foi determinante a chegada de Vasco Coutinho à capitania, mas “ele acertou no atacado, e errou no varejo”. Segundo Estilaque, ao escolher a região, o donatário optou por uma área que ficava bem no centro do território que ele recebeu do rei de Portugal, equidistante tanto do Sul quanto do Norte, como uma estratégia de defesa.

“Por outro lado, ele (Vasco) errou ao escolher o tão famoso quanto ele, Duarte de Lemos, para ajudá-lo na tarefa de defesa contra os índios, corsários franceses, ingleses e holandenses, e ao doar a ilha de Vitória para o fidalgo. Enquanto o donatário escolheu Vila Velha, Duarte de Lemos ficou com Vitória, um sítio geográfico mais adequado para a defesa”, explicou.

Por cerca de uma hora, Estilaque falou sobre pontos que são pouco conhecidos dos capixabas, como a dúvida do rei português, dom João III, se o esforço do país europeu, potência das grandes navegações, deveria se concentrar na África ou na Índia? Ou nas duas regiões?

“Vasco Coutinho voltou da Índia. E aí surgiu essa oportunidade de vir para cá. Mas os ricos de Portugal não se interessavam pelo Brasil. Estavam mais interessados na Índia, onde já se fazia fortuna com o comércio. A nossa colonização, inclusive, ficou atrasada porque os olhos não estavam voltados para cá. Os portugueses só se interessaram quando viram que iam perder o território porque os corsários franceses já estavam aqui”, contou.

E emendou: “O Vasco foi lá para a Asia, mas não ficou rico. Voltou para Portugal meio aposentado, com chinelão no dedo e pastel de Belém na mesa… Ele era um aventureiro sem recursos.”

Para Estilaque, Portugal não colonizou o Brasil efetivamente. “Nós fomos colonizados por um país com poucos recursos, materiais e humanos. O Brasil era um país imenso e a colonização foi frágil, lacunar, por pedacinhos. Qual foi o resultado disso? Quando nós ficamos independentes, em 1822, o país ainda estava inexplorado, a maior parte dele. Em 2024, nós ainda vivemos da agricultura exportadora. E ainda temos terras boas, virgens, novas para o cultivo. Herdamos um território imenso com porções que até hoje estão inexploradas. Vejam a Amazônia!”, avaliou.

O historiador fez questão de destacar que, com a chegada dos europeus, muitos índios morreram, por causa das doenças.

“Foi uma catástrofe! Quando os portugueses chegaram aqui, calcula-se que o Brasil tinha, pelo menos, 5 milhões de habitantes. Quando o Brasil ficou independente, em 1822, a população chegava a no máximo 4 milhões. Aqui no Espírito Santo, próximo à Independência, não chegávamos a 30 mil habitantes. Quando Vasco chegou aqui, com certeza tinham mais de 30 mil índios, hoje menos da metade da população de Jardim Camburi, em Vitória”, comparou.

O historiador contou que o Espírito Santo despovoou-se, entre o início da colonização, em 1535, até o período da Independência.

“Vinham poucos portugueses, e muitos morriam. Por sorte, houve a miscigenação com os índios e os negros. A miscigenação foi automática! Pense você: o português deixava a Maria lá na Europa e, quando via aquele monte de índias bonitas… É natural”, disse Estilaque, lembrando que Vasco Coutinho se opôs à escravidão indígena, apesar de contar com poucos recursos para alavancar a capitania.

Indagado por Gandini se os índios que viviam no território capixaba (de Vitória para o Norte, os tupiniquins; e de Guarapari para o Sul, os tupinambás, principalmente uma etnia chamada de Goitacazes) praticavam a antropofagia, Estilaque afirmou positivamente, reforçando que as nações viviam em constante guerra.

“Sim. Mas era algo ritualístico. Eram prisioneiros de guerra, de honra pessoal, de vingança. Você comeu o meu antepassado. Então, eu vou te comer. Era uma vingança. A guerra tinha essa função”, explicou.

Gandini, por sua vez, explicou que a intenção do Gandicast é ouvir curiosidades, informações importantes de pessoas renomadas e que contribuem com a sociedade capixaba. O baiano Estilaque, que viveu 11 anos em São Paulo e veio parar no Estado para lecionar na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), será homenageado pelo deputado com o Título de Cidadão Espírito-Santense.

“Fiz o concurso para Ufes e me tornei professor. Comecei a dar aula de História do Brasil, e me interessei pela História do Espírito Santo. É como uma pessoa que você se apaixona e quer saber a história dela. Eu me apaixonei pelo Espírito Santo e quis conhecer a história dele. Fico muito emocionado com o título. Agora, eu já posso morrer”, brincou.

foto Wilbert Suave

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