Inventário sobre tradicional festa quilombola entra em fase de conclusão

today20 de dezembro de 2022
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Entre os dias 21 e 23 de dezembro, a equipe responsável pelos estudos que irão subsidiar o pedido de Registro da Festa Raiar da Liberdade do Quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, como patrimônio cultural imaterial do Espírito Santo, realizará diversas reuniões com os caxambuzeiros da comunidade para a finalização dos trabalhos.

Trata-se de um trabalho que durou mais de um ano e que reuniu diversos documentos, reportagens, registros em vídeo e fotos, além de entrevistas com pessoas da comunidade que pudessem contar a história dessa festa, que tem grande importância não somente para os moradores locais, mas também para todos os capixabas.

“Essa talvez seja uma das festas populares mais antigas do Espírito Santo, uma vez que sua primeira edição aconteceu no ano de 1888, ou seja, há 134 anos”, destaca a turismóloga Fátima Buzatto Moura, moradora do quilombo e uma das responsáveis pelo inventário.

“Inventariar a Festa Raiar da Liberdade foi, para nós, um grande aprendizado. Com nossos estudos, pudemos compreender como ela é importante para a memória e para a história da escravidão no Espírito Santo e no Brasil. Ao reconhecer essa festa como patrimônio capixaba, o Conselho Estadual de Cultura lançará luz para um capítulo da história que não pode ser esquecido. Não podemos esquecer para que ele não se repita”, destaca Genildo Coelho Hautequestt Filho, coordenador da equipe do inventário.

Todos esses levantamentos técnicos foram necessários para o preenchimento do Inventário Nacional de Referências Culturais, metodologia criada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para a identificação dos patrimônios brasileiros. A identificação é o primeiro passo para seu acautelamento – ou seja, seu reconhecimento – e o consequente estabelecimento de um plano que possa subsidiar a salvaguarda desse patrimônio.

Conforme destaca Maria Laurinda Adão, mestra do caxambu Santa Cruz e organizadora da festa há 62 anos, “reconhecer nossa festa como patrimônio é reconhecer uma luta por igualdade que nós, negros, travamos na sociedade brasileira há 500 anos”.

Após a conclusão da pesquisa, que se dará até a próxima semana, o inventário será encaminhado ao Conselho Estadual de Cultura para análise e julgamento. “Esperamos que o CEC valide nossa luta por reconhecimento”, destaca o Jongueiro Cleuves Adão, um dos responsáveis pelo toque dos tambores do grupo.

O Quilombo Monte Alegre foi fundado por Adão e seus companheiros, que, por volta de 1850, fugiram da Fazenda Boa Esperança, em Cachoeiro de Itapemirim, e fundaram a comunidade no meio da floresta. No final da tarde do dia 13 de maio de 1888, quando a notícia da assinatura da Lei Áurea chegou à estação ferroviária de Pacotuba, os “negros de ganho”, que trabalhavam no carregamento dos trens, levaram a notícia ao quilombo. Recebendo a notícia, Adão reuniu todos os seus irmãos e comunicou que, a partir daquele dia, eles não eram mais fugitivos porque havia “raiado a liberdade”. Para comemorar, realizaram uma grande roda de caxambu no meio do quilombo – esta teria sido a primeira festa Raiar da Liberdade, a qual, desde essa data, nunca mais deixaria de acontecer. 

O inventário foi um dos projetos contemplados no Edital 012/2020 – Patrimônios Imateriais Registrados e Reconhecidos, com apoio financeiro do Funcultura, da Secretaria de Estado da Cultura – Secult.

fotos Luan Volpato

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