Projetos de valorização de cultura quilombola são iniciados em Monte Alegre, em Cachoeiro
A comunidade de Monte Alegre, localizada no interior de Cachoeiro de Itapemirim, é um quilombo secular, rico em histórias, cujos habitantes detêm diversos saberes, que receberam diretamente dos mais experientes. É dessa maneira que a transmissão do conhecimento acontece nesse contexto: de forma oral e na prática.
Sendo assim, a Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense passou a promover, no último dia 11, duas novas e importantes iniciativas para o fortalecimento da identidade quilombola em Monte Alegre. Trata-se dos projetos Ponto de Memória Quilombola e Oficina de Formação de Caxambuzeiros.
O primeiro visa reconstruir o elo perdido do processo de transmissão dos saberes, em grande parte enfraquecido pelos novos meios de comunicação. Idosos da comunidade realizam rodas de conversa com as crianças da comunidade, de forma a difundir seus conhecimentos. Também foi realizada contação de histórias sobre o quilombo e rodas de caxambu, a forma mais tradicional e eficiente forma de difusão de conhecimento nesse contexto, além de rememorações sobre as histórias do local.
“No ano passado já realizamos uma ação nesses moldes, resultando na criação do Conselho de Idosos do Quilombo Monte Alegre, que, juntamente com a Associação Quilombola, iniciou seus trabalhos cobrando ao poder público municipal os direitos da comunidade. A ideia é dar sequência e ampliar o que já foi realizado”, comenta Maria Elvira, oficineira e contadora de histórias, que dividiu os trabalhos com a professora de História, Luciene Carla Francelino.
O segundo projeto objetiva a formação de novos caxambuzeiros – essa palavra deriva de caxambu, manifestação que remonta ao período da escravidão e que conta com a formação de uma roda, à noite, na qual os participantes cantam versos próprios, dançam e tocam tambores. O alvo são os jovens e as crianças da comunidade, que aprendem e levam adiante o legado e a existência do Caxambu Santa Cruz, grupo local registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN. Suas mestras Maria Laurinda Adão, Adevalmira Adão Felipe, Neuza Gomes Ventura e Geralda Nogueira Calixto comandam o grupo.
Fátima Buzatto, uma das produtoras do projeto e moradora de Monte Alegre, afirma que “essa é uma vontade antiga dos integrantes do Caxambu Santa Cruz, que este ano completa 173 anos de fundação e que passa por dificuldades em atrair jovens para seus quadros por diversos motivos, desde sociais até religiosos”.
Ponto de Memória Quilombola e Oficina de Formação de Caxambuzeiros são projetos realizados com recursos do Funcultura, da Secretaria da Cultura, por meio do Edital 06/2022 – Patrimônio Cultural, e conta com o apoio do Studio Inovar Arquitetura. A cada mês haverá uma nova edição, sempre aberta ao público em geral e à própria comunidade.
fotos Luan Volpato
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