Deputado Bruno Lamas aprova audiência pública para tratar sobre tragédias em escolas

today9 de dezembro de 2022
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O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, deputado estadual Bruno Lamas (PSB), aprovou pedido de audiência pública feito pelo Sindiupes para conhecer de perto o que deu certo após as tragédias de Realengo (RJ) e Suzano (SP)

Emoção, lágrimas, sugestões e pedidos de providências para reforçar a segurança no ambiente escolar, inclusive conhecendo as experiências adotadas em outros estados que tiveram escolas atacadas, levou o presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, deputado estadual Bruno Lamas (PSB), a aprovar ontem (8) uma audiência pública para tratar do tema, 14 dias após um adolescente de 16 anos ter matado três professoras e uma aluna e ter deixado 12 pessoas feridas em Aracruz.

“Vamos realizar em breve uma audiência pública. Nela, além de pedir providências para evitar nova tragédia, ouviremos a experiência de outros estados, que infelizmente passaram por esse momento trágico e quais foram as providências que eles tomaram. O que não podemos é ficar na inércia!”, declarou Bruno, ao final da sessão extraordinária realizada a pedido do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes).

Bruno destacou que medidas precisam ser tomadas. Daí a importância de ouvir representantes de Realengo (RJ), bairro carioca onde uma escola foi alvo de um massacre em 7 de abril de 2011, levando à morte de 12 pessoas; e de Suzano (SP), onde outras 10 pessoas morreram em 13 de março de 2019, também vítimas de um ataque a uma escola.

“Entendemos que o fato aconteceu, mas que uma pena de três anos como medida socioeducativa para o autor não vai resolver essa questão, que é bem mais ampla. A impunidade não pode prevalecer. Não podemos passar por tudo isso de novo. Foi por isso que, a pedido do Sindiupes, reunimos as instituições que vivem a educação no seu dia a dia. Estou feliz porque a Assembleia Legislativa está cumprindo com o seu papel”, afirmou.

O parlamentar agradeceu a contribuição dada pelos professores e manifestou sua indignação diante do crime. Também considerou que o adolescente teve ambiente para premeditar o episódio.

“O incentivo ao uso de armas não cabe numa sociedade civil, não resolve nada e o Brasil passa por momentos difíceis de extremismos. A arma era do pai, a roupa era do pai, a convivência era o lar, a família, quem ensinou aquele adolescente a atirar foi o pai, que é militar. Este país é um país de leis frouxas, de impunidade, de incentivo à política do ódio”, discursou.

A diretora do Sindiupes, Noêmia Simonassi, disse que já foi feita uma reunião com a Secretaria de Estado da Educação (Sedu), quando foram apresentadas as propostas de apoio às famílias das vítimas do atentado em Aracruz. A solicitação também foi de apoio multidisciplinar, reunindo profissionais da saúde, psicólogos e outras áreas.

Ela informou que as aulas foram suspensas nas duas escolas de Aracruz até o final do ano letivo. Reuniões também aconteceram com o Ministério Público Estadual (MPES) e com a Secretaria Municipal de Educação de Aracruz com a mesma pauta envolvendo a violência e a segurança.

Outra solicitação apresentada foi para aumentar a vigilância nas escolas e entorno. Ela afirmou que não se pode culpar o jovem que cometeu o crime pela situação geral. Disse que tanto o jovem quanto a família precisam de tratamento psicológico e ressaltou a necessidade de trabalhar a cultura da paz.

“Não é aumentando pessoas armadas dentro da escola, não é aumentando os muros da escola, não é gradeando toda a escola que nós vamos diminuir a violência. A violência se desenvolveu nos últimos anos no País, explodiu de forma assustadora. Nós precisamos trabalhar a cultura da paz com equipes multidisciplinares. Porque o nosso país está armado. Onde se coloca uma arma tira-se o amor e coloca-se o ódio. Não podemos culpar esse jovem por essa situação. De onde vem todo esse ódio?”, indagou a professora.

Outro diretor do Sindiupes, Gean Carlos Nunes de Jesus, relatou a consternação das famílias atingidas e pediu ao Ministério Público Federal (MPF) que investigue a ação do adolescente, autor do ataque. “Que o MPF investigue se esse adolescente fazia parte de uma rede maior do que ele, nazifascista, uma rede que insiste em trazer o mal, o passado, para nossa realidade do século XXI”, reivindicou.

Para a professora e diretora do Sindiupes Milene da Silva Weck, que é moradora de Aracruz e presidente do Conselho Municipal de Educação, é fundamental a criação de um grupo de trabalho, uma comissão intersetorial ou interinstitucional, com ampla participação para tratar da questão. “Há uma lacuna com relação ao debate com a sociedade civil organizada para que as ações sejam definidas a partir de uma construção coletiva com ampla escuta e participação, e não apenas com decisões governamentais”, ponderou.

LÁGRIMAS
Foi durante a fala de Milene que o clima de comoção tomou conta da reunião e muitos participantes foram às lágrimas. “Finalizo a minha fala citando as professoras Cybelle Passos, Maria da Penha Pereira e Flávia Merçon, além da estudante Selena Sagrillo, que morreram na tragédia. Gostaríamos que todas tivessem sobrevivido. Sigamos na luta para resolver esse problema de fato e não apenas tapar o sol com a peneira. A vida tem de ser valorizada e protegida”, declarou. Ao citar o nome das vítimas, a plateia fez questão de responder: “Presente!”

Membro da Rede Comunica Educação, professor Fábio Amorim, afirmou que o ataque de Aracruz é uma tragédia anunciada. “Isso não é um caso isolado. Estamos vivendo um período já longo de destituição do papel do professor na escola, da negação do conhecimento e da ciência. Nós precisamos tirar da educação algumas culpabilizações. Quando se fala da violência escolar, parece que ela saiu da escola, mas, ao contrário, ela entrou na escola. É uma violência de uma sociedade adoecida pela narrativa de ódio, pela negação da ciência, pela negação do conhecimento e do ataque a nossa liberdade de cátedra”, observou.

O professor quer que a Assembleia e outras Casas de leis do País respondam aos ataques que acontecem dentro dessas instituições com discursos disseminando o ódio. “Falas discriminatórias, ofensivas e violentas que legitimam essa violência que acarretou em mais um fato”, cobrou Amorim.

O professor Carlos Ricardo Balbino, que é secretário de Educação de Anchieta e membro da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), trouxe um dado alarmante: foram seis ataques a escolas em seis meses no País.

A professora Euci Lobão, vice-presidente da Associação de Pais e Alunos do Espírito Santo (Assopaes), lamentou a tragédia e propôs medidas para reduzir a violência nas escolas.

João Paulo Cardozo, do Sindiupes de Vila Velha, pediu mais rigidez no acesso às armas, o reforço da cultura da paz na grade escolar e os apoios psicológico e jurídico às famílias das vítimas.

A sociedade civil organizada também se fez representada pela Andreia Cristina Coelho, que propôs a colocação de portas com detectores de metais nas escolas municipais, estaduais e universidades.

Bruno Lamas comemorou o resultado da reunião. Ele disse que recebeu as contribuições de melhorias na segurança do ambiente escolar feitas por quem vive a educação no seu dia a dia, como pais de alunos, trabalhadores e representantes de Aracruz, com pedidos de ações urgentes. Segundo ele, tudo será entregue às secretarias de Estado da Segurança e da Educação.

Crédito Assessoria Parlamentar

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