Paciente transforma rotina de enfermaria do Hospital Estadual Central tocando gaita

today12 de fevereiro de 2020
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Os dias tristes ficaram para trás na enfermaria 208 da unidade de acidente vascular cerebral (AVC) do Hospital Estadual Central – Benício Tavares Pereira. O paciente Argemiro Soares Pinho, de 86 anos, foi internado no dia 26 de janeiro e há quatro dias pediu à família para trazer sua gaita para entretê-lo. Ele, que trabalhou parte da vida como marceneiro, desde pequeno gosta mesmo é de fazer música.

A filha do paciente, Clemilda Soares Mendes, que o acompanha no hospital, explicou que Argemiro via a mãe e o irmão mais velho tocarem acordeon: “Ele tinha uns nove anos e também queria tocar, mas os dois não o deixavam pegar o instrumento. Papai diz que se sentava aos pés da minha avó, pegava um pedaço de couro, dois pedaços de madeira, riscava com carvão os botões do teclado e, quando ela tocava, ele a acompanhava no seu acordeon imaginário”.

Uns anos depois, Argemiro pediu ao pai uma parte da lavoura. “Ele trabalhava para meu avô, mas se conseguisse uns pés de café para cuidar e colher, conseguiria juntar o dinheiro da venda e comprar um acordeon para ele. Acho que ele vendeu uma leitoa que tinha, juntou e comprou seu primeiro acordeon”, contou Clemilda.

Durante toda sua vida, seu Argemiro gostava de levar um pouco de alegria para os outros através da música. Essa realidade precisou ser readaptada após descobrir que tinha mal de Parkinson. “Quando descobriu a doença, ele tocava um acordeon Todeschini 80 baixos italiana, que é o que ele mais ama, mas como a mão ficou limitada, agora ele toca um modelo 27 baixos. A outra ele deu pro meu irmão e agora eles formam uma dupla”, comentou a filha.

A fonoaudióloga do HEC Flávia Luzia Motta afirma que a gaita tem contribuído no tratamento do paciente. “O Parkinson e o AVC causam disfagia, que é a dificuldade de deglutição. Qualquer instrumento de sopro, como gaita, flauta, apito, vão ajudar na sensibilização da laringe, melhorando a deglutição e, principalmente, a fonação. O paciente vem evoluindo muito e já mudamos até a dieta dele, que antes era líquida pastosa e agora já passou para pastosa”, disse a profissional.

O instrumento mudou a rotina dos demais pacientes do quarto. Quando seu Argemiro se inspira, pede a gaita e toca até cansar. Além do Parkinson e o AVC, ele também foi diagnosticado com um quadro demencial há alguns anos, mas, apesar dos problemas de saúde, a memória musical dele permanece intacta. “Ele não esquece a música e nem o dia do pagamento”, brincou Clemilda.

Para o paciente, esse é um jeito de transformar dias ruins em bons. “A música tem o poder de me alegrar”.

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